Lisboa Dance Festival
Ouvimos música electrónica bem alta. Olhamos para o lado e vemos um
restaurante. Através do vidro tudo parece normal, as pessoas comem e conversam.
Puntz, puntz, puntz. Não, tem de ser aqui. O cartaz à porta indica que é ali a
sala BI+CA. Entramos, mostramos a pulseira ao segurança que se encontra entre a
porta da cozinha e a escada. Subimos e o som aumenta. Era de lá que vinha a
música. A sala é pequena e o calor, emanado dos corpos dançantes, faz-se logo
sentir. As pessoas dançam com muito menos roupa daquela que trago vestida. Lá
fora estão menos de 10º e a constipação que tinha só foi curada na véspera. Mas
tudo começou com as Talks...
O Lisboa Dance Festival viu no passado fim-de-semana a sua primeira edição. A LX Factory foi o espaço escolhido para este festival de música electrónica. O slogan "Music. Talks. Market." cobre a essência deste festival de inverno. A música podia ser ouvida das 17h às 4h, com alguns dos melhores nomes da cena actual, passando depois para o Ministerium Cub, no Terreiro do Paço, para o after hours.
O Lisboa Dance Festival viu no passado fim-de-semana a sua primeira edição. A LX Factory foi o espaço escolhido para este festival de música electrónica. O slogan "Music. Talks. Market." cobre a essência deste festival de inverno. A música podia ser ouvida das 17h às 4h, com alguns dos melhores nomes da cena actual, passando depois para o Ministerium Cub, no Terreiro do Paço, para o after hours.
As Talks eram provavelmente o que mais me interessava neste festival,
onde infelizmente só conseguimos ir no segundo dia por causa da tal
constipação. As Talks, divididas em Talks, Lectures e Masterclasses,
encontravam-se na ACT-Escola de Actores, em três salas próximas mas distintas.
Eram 16h quando Rui Miguel Abreu sugeriu "vamos improvisar como no
jazz" e juntou a Talk e a Lecture sobre Vinil.
Luís Clara Gomes (Moullinex), José Moura, Jorge Caiado e Luís Costa
(Magazino) sentaram-se no sofá para uma conversa moderada pelo locutor da
Antena 3, Luís Oliveira. Uma hora muito interessante sempre à volta do vinil.
Falou-se do vinil como objecto de culto, como instrumento de trabalho, como
ganha-pão (ou não) das editoras e lojas independentes, o vinil como
"moda" e o vinil como paixão. A experiência de cada um dos
convidados, seja como DJ ou como representante de cada editora, contribuiu em
muito para esta Talk.
Na sala do lado ouvia-se o scratch de Dj Ride que leccionava a
masterclass "Scratch e Produção". Atravessei o corredor para a
Lecture "Direitos para Artistas e Editoras" dada por Nuno Saraiva
acerca dos direitos de autor e direitos conexos, um tema "muito mais
secante do que a Talk anterior" segundo o próprio. Com recurso a slides
projectados, foi explicado, de uma forma um pouco mais simplificada, o tema
denso dos direitos de autor e da importância da AMAEI na protecção dos direitos
dos autores e das editoras independentes.
Estava na altura de ouvir um pouco de música e desloquei-me ao edifício
do lado, à sala ZOOT. Slow J é um dos nomes mais falados ultimamente no mundo
do hip hop. Na entrevista que fiz no passado mês de Outubro a Sam the Kid e
Mundo Segundo, Sam referiu o nome de Slow J como um dos novos nomes a seguir.
No sábado percebi porquê. Slow J é João Batista Coelho, MC, compositor e
produtor. Acompanhado de Fred Ferreira (Orelha Negra, Banda do Mar, etc.)
proporcionaram aquele que para mim, e dos concertos que tive oportunidade de
assistir, foi o concerto do festival. Uma actuação simples e condensada que
deixou a música transparecer no seu melhor estado, puro. Slow J não é apenas
mais um rapper, é um cantor e como comprovado, um nome a seguir no panorama da
música nacional.
Seguiram-se Francis Dale e Isaura. Numa versão bem mais complexa que o
seu anterior par, deram um concerto consistente onde, se pusermos os pequenos
problemas técnicos de lado, brilharam as vozes dos dois cantores.
Era noite de derby Sporting - Benfica e como provavelmente tantos
outros, fui arrastada para o restaurante mais próximo e fui lá retida nos 105
minutos seguintes. De estômago cheio e felicidade no rosto do nosso fotógrafo
(ganhou o Benfica) voltámos ao recinto para espreitar o que tocava nas outras
salas. Na BI+CA os clientes jantavam calmamente no andar de baixo ignorando o
som da sala de cima que se fazia ouvir bem acima de uma qualquer música de
ambiente. Na sala NormaJean o calor emanava pela pequena frecha da janela ao
lado das casas de banho.
Voltámos para a nossa sala de eleição, a ZOOT. Desta feita para assistir
à apresentação do novo álbum de DJ Ride e convidados. Acompanhado de uma banda,
apresentou os temas do novo trabalho "From Scratch" com a ajuda de
vários convidados entre eles, Stereossauro, Capicua, Jimmy P, Héber Marques (HMB)
e MGDRV.
Depois de uma visita ao Market, onde se encontravam representadas
algumas editoras independentes com um papel relevante na música electrónica,
passámos na Fábrica XL, a maior sala do festival. A sala é um dos meus espaços
favoritos em Lisboa (fui lá a um grande aniversário da Kalimodjo há uns anos
atrás) mas pode ser uma armadilha em termos acústicos. A sala foi muito bem
aproveitada com o video mapping a ajudar no aspecto visual e uma aposta
perfeita para receber os festivaleiros que tenho a certeza serão muitos mais no
próximo ano.
Foi tempo de regressar a casa. O frio era muito e o medo da constipação
voltar também. Para o ano há mais.
Texto: Sofia Robert
Instagram e Twitter: @soumusicapt
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