Rui Veloso Trio - Coliseu dos Recreios
As luzes apagam-se. “Estás
nervoso pá?”. Pensamos “ups,
os microfones estão ligados e eles não
sabem”. Até que ouvimos “Agora
é aquela parte em que se costuma
ouvir uma voz a dizer que não se pode fotografar ou filmar.
Aqui pode-se fotografar e filmar o concerto todo”. O público
irrompe numa grande salva de palmas e risos, ao mesmo tempo que as luzes
acendem.
“As regras da sensatez”
foi um momento inspirador, frases como “Nunca voltes
ao lugar onde já foste feliz, por muito que o coração
diga, não faças o que ele diz”
ou “Nem Deus tem o dom de escolher quem vai ser feliz”
da música “Canção de Alterne”
conseguem-me emocionar. É esse o poder das músicas
de Rui Veloso, têm letras sublimes que através
do sentido de humor ou da subtileza das mais românticas, nos
despertam emoções fortes. Não esquecendo todas aquelas que são
verdadeiras odes aos locais mais bonitos do nosso país.
Rui Veloso começa assim uma noite mágica
e recheada de sentido de humor.
Rui Veloso, Alexandre Manaia e Berg levantam-se do sofá
instalado no fundo do palco e sentam-se nas três cadeiras
frontais rodeadas de várias guitarras.
O concerto começa com músicas pouco
conhecidas do grande público e que poucas vezes entram
nas setlists dos concertos deste
mestre de grandes sucessos.
“Parece que estamos numa sala”
diz Rui Veloso enquanto confessa que o sofá
lhe pertence e a mesa foi comprada no OLX. Não fossem as
cadeiras de madeira do balcão serem tão desconfortáveis
e eu acreditaria mesmo que estava na sala de minha casa.
Depois de músicas onde estranhamente não
ouvíamos quase ninguém a cantar,
neste Coliseu dos Recreios praticamente lotado, tivemos direito aos clássicos
como “Chico Fininho”, uma versão um pouco
mais acelerada de “Nunca me esqueci de ti”,
“Primeiro Beijo”, “Cavaleiro
Andante” e “Porto Côvo”.
Fomos brindados com solos de harmónica de Berg e
Rui Veloso e também com o som divinal da slide
guitar que Berg usou em três músicas.
Além de vozes brilhantes, estes três
músicos são excepcionais intérpretes
e fizeram-se acompanhar de técnicos de som que nos
proporcionaram uma acústica perfeita naquela que eu
considero a melhor sala de espéctaculos de Lisboa.
Pudemos também ouvir alguns “Blues
à moda do Porto”
que me fizeram ter vontade de parar o tempo.
Rui Veloso deixou tempo também para ir
encontrando na plateia os filhos, amigos e colegas com os quais escreveu
algumas das canções que tocou e para encher a
sala de boa disposição com as suas histórias
engraçadas e bom humor: “Uma vez, antes
de um concerto, uma senhora estava-me a perguntar se eu ia cantar várias
músicas e perguntou se eu ia cantar aquela em que dizia
que ia ao gás. Eu fiquei a pensar se tinha alguma música
com a palavra gás ou bilha, afinal era a música
“O prometido é devido”
quando digo “Disseste que se eu fosse audaz””.
Seguiu-se uma gargalhada geral que se repetiu quando chegou essa parte da música.
Num concerto que durou quase três horas houve
tempo para convidados: Orlanda e Anastacia que fizeram coros na segunda metade
do concerto e os Adiafa, grupo de cantares alentejanos composto por duas gerações
de pais e filhos que nos vieram cantar músicas como “Feira
de Castro” a qual se repetiu no final como
despedida.
No que ameaçava ser o fim do concerto
ouvia-se alguém do público gritar pela quarta vez “Jura”.
Entre grande entusiasmo e ovações de pé
foram vários os encores, afinal não podíamos
ir embora sem ouvir “Jura”, “Paixão”
ou “Não há
estrelas no céu”.
Saímos de coração
cheio e alma inspirada com tão boas vozes e intérpretes.
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